Uma pesquisa exclusiva revela: o
brasileiro compra animais sem pensar nas implicações, não os castra e os
abandona por motivos fúteis
FONTE:
MARCOS CORONATO
epoca.globo.com
Cerca de 42% dos donos de cães e gatos no Brasil não castram seus
animais. Esse é um dos comportamentos do brasileiro que levam à
proliferação descuidada desses animais, a seu consequente abandono,
vulnerabilidade a maus-tratos e sofrimento desnecessário. Além disso, a
multiplicação descontrolada dos animais aumenta o risco de difusão de doenças entre eles e para seres humanos. A pesquisa Paixão por bichos de estimação foi feita pelo Ibope Inteligência e pelo Instituto Waltham, ligado a fabricantes de ração.
O tema ganha relevância por causa do crescente convívio de bichos estimação com as famílias brasileiras. O IBGE estima que haja ao menos um cão em 30 milhões de domicílios no país, ou 44,3% do total. Há no país 52,2 milhões de cães e 22,1 milhões de gatos domésticos.
Essas duas populações vêm se expandindo – a dos cães, cerca de 6% ao
ano, e a dos gatos, cerca de 12% ao ano, segundo dois estudos feitos em
2001 e 2009, sob orientação de Ricardo Dias, professor na Faculdade de
Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP). Ele também
colaborou com a pesquisa Paixão por bichos de estimação. Amparado nos dados da nova pesquisa, Dias faz um alerta. “Os sinais são preocupantes.
Mostram que o brasileiro procura animal de estimação baseado em
modismos de raça e tem baixa propensão a tentar manter o animal, diante
de mudanças no estilo de vida”, afirma.
Também é razoável supor que parte das pessoas que abandonam um bicho de
estimação fez uma tentativa honesta. Parte dessas pessoas começou a se
relacionar com o animal por meio de uma iniciativa correta – a adoção.
Quem adota um animal e tenta cuidar dele, mas se vê forçado a
abandoná-lo por motivos de força maior, fez um esforço para diminuir o
problema e não o tornou pior do que já era. Outra parte, ainda, é
obrigada a se separar do animal mas consegue entregá-lo a uma nova
família, que cuidará bem dele. O número crescente de animais abandonados nas cidades brasileiras, porém, indica que muita gente não se enquadra nesses casos benignos.
A seguir, os três comportamentos preocupantes do brasileiro ao lidar com animais domésticos.
PROPENSÃO A ABANDONAR O ANIMAL
Apenas 41% dos donos afirmam que levarão o animal consigo,
caso tenham de se mudar. Isso significa que seis em cada dez acham
duvidoso que consigam fazer isso. “Existem alguns motivos compreensíveis
para deixar um animal”, afirma Dias, da USP. “É o que acontece com quem
se vê obrigado a se mudar de um imóvel maior para um menor, ou de uma
casa para um apartamento”. Mas a pergunta apresentada na pesquisa não
incluía esse tipo de circunstância forçada.
HISTÓRICO DE ABANDONO DE ANIMAL
Entre os brasileiros que já tiveram um cão ou gato e não têm mais, 14%
justificam a separação alegando mudança de residência. Parte dessas
famílias certamente não teve alternativa, como mencionado no tópico
anterior. Pelos dados de abandono, porém, grande parte poderia planejar a
mudança junto com o animal, e não o fez. E outros 14% explicam a separação alegando motivos que poderiam ter sido evitados
com algum planejamento (leia os detalhes abaixo -- em cor-de-laranja
estão os motivos questionáveis para tentar justificar a separação do
animal). Mesmo as pequenas parcelas de participantes que deram as
respostas indicadas em laranja, abaixo, ajudam a piorar
significativamente o problema, porque as porcentagens se aplicam sobre
os milhões de domicílios que escolhem ter animais. Entre os que já
tiveram cães e gatos e não têm mais, 67% responderam que ele morreu, 5%,
que foi envenenado, e 2% que foi roubado -- esses motivos estão em
cinza.
NEGLIGÊNCIA COM A CASTRAÇÃO
Atualmente, a castração de machos e fêmeas pode ser feita sem dor e sem
alteração do comportamento natural dos animais. Há ONGs e escolas de
veterinária que prestam o serviço gratuitamente (leia mais a respeito no
fim deste texto*). Restam poucas justificativas para que muitos donos
ainda permitam a proliferação descontrolada de animais. Cerca de 42% dos donos de cães e gatos no Brasil não os castram.
A pesquisa foi feita pelo Ibope e pelo Instituto Waltham em 2015.
Incluiu 13 grupos de discussão em São Paulo, Recife e Porto Alegre, e
900 entrevistas com homens e mulheres a partir de 25 anos em São Paulo,
Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Porto Alegre, Salvador e Distrito
Federal. Os 900 entrevistados se dividiam em três grupos de 300
participantes cada um: donos de cães, donos de gatos e não possuidores
de bicho de estimação, mas com intenção de ter um.
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