Hoje encontrei seu cão.
Não, ele
não foi adotado por ninguém. Aqui por perto, a maioria das pessoas já tem
vários cães; aqueles que não têm, não querem nenhum. Eu sei que você esperava
que ele encontrasse um bom lar quando o deixou aqui, mas ele não encontrou.
Quando o vi pela primeira vez, ele estava bem longe da casa mais próxima e
estava sozinho, com sede, magro e mancava por causa de um machucado na pata.
Ele virou
as costas e seguiu seu caminho, pois tinha certeza de que esse caminho o
levaria a você. Ele não entende que você não está procurando por ele. Ele só
sabe que você não está lá, sabe apenas que precisa te encontrar. Isso é mais
importante do que comida, água ou o estranho que pode lhe dar essas coisas.
Percebi que seria inútil tentar persuadi-lo ou segui-lo. Eu nem sei seu nome.
Fui para casa, enchi um balde d’água e uma vasilha de comida e voltei para o
lugar onde o havia encontrado. Não havia nem sinal dele, mas deixei a água e a
comida debaixo da árvore onde ele havia buscado abrigo do sol e um pouco de
descanso.
Veja bem, ele não é um cão selvagem. Ao
domesticá-lo, você tirou dele o instinto de sobrevivência nas ruas. Ele só sabe
que precisa caminhar o dia todo. Ele não sabe que o sol e o calor podem
tirar-lhe a vida. Ele só sabe que precisa encontrá-lo.
Aguardei na esperança de que voltasse
para buscar abrigo sob a árvore, na esperança de que a água e a comida que
havia trazido fizessem com que confiasse em mim e eu pudesse levá-lo para casa,
cuidar do machucado da pata, dar-lhe um canto fresco para se deitar e ajudá-lo
a entender que agora você não faria mais parte de sua vida. Ele não voltou
naquela manhã e, quando a noite caiu, a água e a comida permaneciam intocadas.
Fiquei
preocupado. Você deve saber que poucas pessoas tentariam ajudar seu cão.
Algumas o enxotariam, outras chamariam a carrocinha, que lhe daria o destino do
qual você achou que o estava salvando – depois de dias de sofrimento sem água
ou comida. Voltei ao local antes do anoitecer. Não o encontrei.
Na manhã seguinte,
voltei e vi que a água e a comida permaneciam intactas. Ah, se você estivesse
aqui para chamar seu nome! Sua voz é tão familiar para ele. Dirigi-me na
direção que ele havia tomado ontem, sem muita esperança de encontrá-lo. Ele
estava tão desesperado para te encontrar, que seria capaz de caminhar muitos
quilômetros em 24 horas.
Algumas
horas mais tarde, a uma boa distância do local onde eu o havia visto pela
primeira vez, finalmente encontrei seu cão. A sede não o atormentava mais. Sua fome
havia desaparecido e suas dores haviam passado. O machucado da pata não o
incomodava mais. Agora seu cão está livre de todo esse sofrimento.
Seu cão
morreu.
Ajoelhei-me ao lado dele e amaldiçoei você por não estar aqui ontem para
que eu pudesse ver o brilho, por um instante sequer, naqueles olhos vazios.
Rezei, pedindo que sua jornada o tenha levado àquele lugar que acho que você
esperava que ele encontrasse. Se você soubesse por quanta coisa ele passou para
chegar lá… E eu sofro, pois sei que, se ele acordasse agora, e se eu fosse
você, seus olhos brilhariam ao reconhecê-lo, ele abanaria a cauda, perdoando-o
por tê-lo abandonado.
(Autor
desconhecido)
Fonte: http://oloboalfa.com.br/uma-licao-de-vida/?regiao=pr
Youtube : O cão abandonado
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